quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Pelas Ruas



Lua, convidativa lua
Que muda a todo instante
Diante de nossos olhos
Mas que é e sempre será
Unicamente a que sempre foi

Eu passava através das ruas
Como quem nelas buscasse abrigo
Como dono dum peito em que o calor chamusca
Os ouvidos facilmente são atraídos
Pelos barulhos infernais dos motores
Pelos incessantes passos de borracha friccionada
Contra o chão bruto de pedra

De volta à concha,
De volta ao ovo

Sob o sol escaldante, ouvi os dizeres
E compreendi a todos, mesmo sem entendê-los
Da mesma forma que se compreende a música
Quando não se nos tem nenhuma explicação lógica
[Como uma criança faminta
Nos braços da Mãe das Coisas]

Deixe-me viver!
Deixe-me ouvir e fundir-me aos encantos
Encantados sorrisos
E entalados choros das gentes
Fundir-me aos cantos
E melodias que pincelam a vida

Eu vi o sol deixar-nos, no horizonte
E o céu era púrpura e dourado
Como uma festa infinita de cores
Que houvesse encontrado caminho
Em meio ao labirinto que é o peito
Fazendo bater mais forte, a vida

E eu jamais hei de compreender
Os olhares vazios e dedos incansáveis
Que tamborilam por sobre superfícies mortas
Os silêncios constrangedores do banco da frente
Os mesmos silêncios constrangedores
Das praças de alimentação
[E as vozes enlouquecidas que vêm de lugar nenhum
E que vêm de todos os lugares]

E eu morrerei sem compreender
As palavras brutas, sem lapidação
Que jogam às crianças
Como se fossem irreais
[Como se não fossem elas
As verdadeiras donas da verdade]

E morrerei também
Sem que compreenda a inconsciência
A ausência de presença
Os olhares confusos, vagueando nos tetos
Os olhares mortos virados para a TV
A quantidade de segredos obtusos
Que morrem com a gente...

Continuo através das ruas
E quase nada mais da morte me assusta
E quase tudo da vida me convida
[Zum de besouro – um imã]
E a guerra já não me repulsa

Tudo são toques – tudo são visões
Tudo são gritos de saudade
Tudo são apelos por amor
Quase nada é por acaso

E me espanta o fato
De que, mesmo sendo sozinho,
Sou sozinho junto a todas estas coisas
As ruas, o sol, a lua, as pessoas
E minha essência é como que a terra
Sobre a qual pisam meus pés incansáveis

E me assusta o fato da eternidade da vida
Que são nada mais que centésimos de segundo
Diante da idade do Universo
[Poeira ao vento,
Tudo o que somos é poeira ao vento]

Um salve à expressão -
Um dar de ombros à métrica
É assim que escrevo versos;
E assim que vivo a vida.