MEUS dedos passeiam
Despretensiosamente
Enquanto a noite torna-se fria
Lá fora, o vento subjuga os incautos
Os subjugados perecem
Frente o desdém natural
E quebra-se o inquebrantável diamante
Frente à singular suficiência do tempo
Enquanto o inverno faz do céu neblina
E os velhos ameaçam não sobreviver à doença,
Os corações obrigam-se a erguer chama
Para que não se deixe congelar
Enquanto duvido da vida amanhã
Do pão e do chão certos de hoje
Meus medos passeiam
Despretensiosamente
No frio desfaz-se
A gloriosa imagem do futuro
- Resta-nos só os nós dos dedos
Gelados como a galáxia
Ouçam-lhes os supostos relatos
Dos que encontraram, no frio, amor
Tudo o que no frio encontrei
Foram corpos congelados à morte
Foram olhos assustados
E gargantas sem força para gritar
Mas, enquanto pelos finos
Fios pretos de cabelo
Meus dedos passeiam
[Despretensiosamente]
Viajo, e o suposto destino
Talvez seja o que chamam amor