O teu amor me cobre
Como o espaço vazio cobre aos corpos
do universo
O teu encontro é senão a constante chuva
da qual minha alma seca carecia
E vinha, há tanto, carecendo
Camuflado sob necessárias e éticas
convenções preliminares
Devolveu-me a esperança perdida
por entre meus sonhos
Deu-me oceano no qual desaguar
Recupero a cada instante
o sentimento que escapou
por entre meus dedos, nesses cabeiros
anos vazios
Beijou-me o rosto e sepultou-me as trevas
Meu espírito inseguro enchendo-se de segurança
Minha mente vazia inflando com inspiração
Meu ser, antes esquecido,
relembrado nos dias cinzentos
Sinto-me abraçado e amado, mesmo quando à distância
E quando a ti encontro, reencontro minha paz
que se havia perdido pelas esquinas ensolaradas
Encontro a mim mesmo e a todos aqueles amigos antigos
Encontro aquilo que me faltou e confinou-me à solidão
[A semana em que recobrei a consciência
e abandonei o drama]
Quero agora jogar-me à sorte das tuas mãos de calor
E cultivar a ti no meu coração, para que nada se perca
E amar-te como se amasse a todos aqueles amigos
que jamais possuí
E se foi mesmo o destino que colocou-lhe
nalguma das passagens do meu caminho
Vejo, enfim, que não é ele assim tão cruel
quanto dizem.
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