domingo, 1 de fevereiro de 2015

αγάπη το τραγούδι

I - O que eu penso ter aprendido

De aforismos a passados esquecidos 
E sóis banhando a manhã quando o sono ainda não veio 
E lágrimas secas duma noite em que a beleza da separação apareceu 
Quando não advém, a beleza, a noite é só cinzenta e úmida 
Mergulho em sentimentos e pensamentos que, como sementes, cultivo 
E, como soldado, sobrevivo à guerra, às maldições e humilhações 
Como um fantasma chamado ontem que habita as profundezas terrenas
Como um doente olha para o resto da vida do leito branco de morte 
Jamais aprenderei a esquecer 

Ergo-me então e prometo renascer 
Mas minha resolução dura só até o momento em que o baque da porta me desperta 
Nuvens vermelhas ameaçam com chuva, lá fora, mas não chove nunca
O mundo se torna abafado, vermelho, olhos forasteiros a nos observar
O mundo além do arco-íris cabal e minuciosamente ocultado 
Goteiras mentais, o som da Entrada dos Gladiadores 
Eu encolhido numa cama no centro do mundo, devassado pela sorte dos destinos
Eu em meio ao prenúncio de boas novas que conto a mim mesmo 
Eu e a incessante busca pelos amores que eu nunca conheci

Me convenço da minha própria estupidez e me venço no repúdio 
Tanto pode ser que depois de tanto ver e sentir ainda quase nada aprendi sobre viver 
Quanto pode ser que finalmente encontro a estrada que me leva de fato a quem sou 
Mas a quem quero enganar? O erro perpetra e atravessa todas as esquinas 
O erro me acerca a ponta do nariz e me estapeia a cara
Enquanto eu, banhado e cozido no fricote, finjo-me de cego e anestesiado 
E se os dias estão aí para serem vividos mesmo, pergunto a mim e aos céus como
Como me livrarei da repetição, do cansaço, do entretenimento fácil e da solidão? 
Ha algo ainda por desabrochar que mais cedo que tarde me servirá como mola 
[raias de piscina olímpica, degraus, armação] 

Não, ainda não desisti do luzidio devaneio de me deixar escapar 
Pra algum lugar além do mar que separa o hemisfério norte do sul
Ainda não me convenci acerca de motivos que me deixem somente contente
No deixar-me ficar num país que me assusta mais do que eu o amo 
[Quantos abraços de lá valerão pelos abraços daqui?]
Ainda quero desafiar a lógica e procurar por rachaduras pelos muros dos lugares onde nunca entrei 
Sim, ainda desejo todos aqueles olhares e todas aquelas mãos 
E, se um dia eu conseguir entrar, sem dúvidas que serei tolo o suficiente para olhar pra fora e dizer:
"Eu era tão mais feliz quando não passava de um gaudério sem lar".  


II - Voltando pra Natal

Parte do meu espírito ficou em Natal 
E, lá, eu ainda ando sorrindo por aquelas ruas 
Mas deve não passar dum lugar normal 
Onde eu vi desabrochar qualquer amor de mim
E pensei ter, enfim, encontrado Pasárgada 

Mas, em todos os meus mapas do tesouro, 
O X sempre está em Natal 
Minha bússola aponta pro Norte
E, veja bem, o Norte é também Natal 
O dia de oásis sob o sol  
A noite de maravilhas 
Que só o próprio espírito 
É critério capaz de medir

Eu, caminhando em Ponta Negra 
Em qualquer paraíso esquecido e perdido 
Devoto de rei nenhum e dos deuses 
Reencontro de mim mesmo
Ninguém, deixando-se levar pelo deleite 
O artesanato, e as luzes, e a comida
E o mar 

Antes tarde que cedo demais 
Aos teus braços terminarei regressando,
Natal. 

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